segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A viagem sem volta rumo ao desapego

Estou lendo o livro "Meditando a vida" do Lama Padma Samten e um trecho me chamou a atenção. Transcrevo aqui:

"Usualmente nos portamos como mendigos, colocando a felicidade como dependente de algo externo. No momento em que olhamos para fora em busca de felicidade, esquecemos que nossa natureza é uma joia que realiza todos os desejos e nos tornamos mendigos, dependentes de situações externas. É como se fôssemos muito ricos, mas não tivéssemos consciência de nossa riqueza. Quando adotamos uma atitude de mendigo, relacionamo-nos com os outros como quem espera ganhar uma esmola de vez em quando."

E mais uma vez o "desapego" é a palavra de ordem. Não podemos colocar nossa felicidade em algo externo: pessoas, objetos, situações. Temos que nos desapegar! Aliás já li uma entrevista (acho que da monja Cohen) falando que o certo não seria dizer "desapego" pois isto pressupõe um apego anterior. Na verdade não temos que desapegar, mas sim "não ter apego". Não devemos nem criar apego pelas pessoas, coisas e situações. Difícil, hein?

Desafios para essa viagem louca que é a vida.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Muita viagem pra desconstruir o que está posto

"Há um afeto específico da relação sexual imediata, que pode ser exercitado de forma específica."

Nunca é "só sexo". Sexo já é muita coisa, é uma troca muito intensa. Vamos curtir o que essa relação tem de bom, sem desmerecê-la e desvalorizá-la  :-)


Só querendo postar  isso aqui hoje. Sem muito comentário, sem muita discussão. Direto ao ponto.

sábado, 25 de maio de 2013

Viajando com novas palavras

Dando uma olhada no site Relações Livres encontro uma nova palavra. Sim, uma palavra com um significado muito bonito. Difícil de compreender, de viver, de sentir, mas muito bonito. Talvez estejamos tão acostumados a sentimentos feios como o ciúme que achamos impossível que um sentimento desses caiba em nossos corações. A palavra é COMPERSÃO.

Só pra dar uma ideia, a definição que está no site citado é essa:

"É um termo usado por pessoas que tem relacionamentos livres, abertos, ou poliamorosos.
Compersão é o sentimento oposto ao ciúme. É quando a gente fica feliz de ver feliz a pessoa que a gente ama sendo amada ou amando outras pessoas, ou simplesmente curtindo as novas relações.
É componente do amor, não do modelo de relação… Até porque os relacionamentos abertos nem sempre tem esse componente presente mas ele é fundamental para virar a pagina do ciúme.
Mas só sentimos compersão quando compreendemos a multiplicidade de experiências do outro como enriquecedora para nós mesmos e respeitamos sua autonomia em procurar satisfação de formas diferentes das nossas."

Também achei esse texto aqui em um site poliamorista. Bem interessante.

O importante aqui é pensar no outro não como nossa propriedade, mas como uma individualidade, com vontades, desejos e sentimentos próprios. É perceber que dessa forma as relações são muito mais ricas, saudáveis e interessantes. É valorizar o amor e o respeito. 

É um desafio lindo pra uma vida inteira.


quarta-feira, 10 de abril de 2013

Uma viagem nesse dia branco

Ontem e hoje fiquei ouvindo Geraldo Azevedo. Ele tem várias músicas que eu amo. São lindas, sensíveis, delicadas. A minha preferida sempre foi "Moça Bonita" . Gostava de pensar que casaria com o homem que cantasse ela pra mim, dançando forró comigo! rsrsrsrs
Hoje, no entanto, outra música me chamou a atenção, enquanto eu cozinhava e lavava a louça (momento raro!). Apesar de ter feito um dia meio cinza, a música que tocou (e me tocou) foi "Dia Branco". Sempre achei a melodia bonita e a letra também. Dessas letras que são verdadeiras declarações de amor.

"Se você vier
Pro que der e vier comigo
Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva
Se a chuva cair
Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar
Nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto
Esse canto de amor
Se você quiser e vier
Pro que der e vier comigo"

O final tem outra variação:

"Esse canto
Esse tão grande amor
Grande amor
Se você quiser e vier
Pro que der e vier comigo
Comigo, comigo"

Parece uma música sobre promessas, juras de amor. Mas hoje percebi que não. É justamente o contrário! Geraldo fala de um (grande) amor sem promessas: "eu lhe prometo o sol se hoje o sol sair, ou a chuva, se a chuva cair", "nesse dia branco, se branco ele for". É como se dissesse: "não posso prometer nada se você vier comigo". Talvez a única promessa seja de um "grande amor" se ela aceitar ir com ele "pro que der e vier". Aliás, essa expressão reforça a ideia de encarar um futuro desconhecido, em aberto, sem mais promessas.

Pra mim ele fala de um grande amor, simples e sem promessas futuras ("até onde a gente chegar, numa praça na beira do mar, num pedaço de qualquer lugar"). Lindo demais!

Minha singela interpretação :-)


sábado, 12 de janeiro de 2013

Poliviajando

Com muita preguiça de escrever no blog, deixo aqui algo muito interessante que li hoje no seguinte link: http://www.poliamor.pt.to/

"Poliamor é um tipo de relação em que cada pessoa tem a liberdade de manter mais do que um relacionamento ao mesmo tempo. Não segue a monogamia como modelo de felicidade, o que não implica, porém, a promiscuidade. Não se trata de procurar obsessivamente novas relações pelo facto de ter essa possibilidade sempre em aberto, mas sim de viver naturalmente tendo essa liberdade em mente.
O Poliamor pressupõe uma total honestidade no seio da relação. Não se trata de enganar nem magoar ninguém. Tem como princípio que todas as pessoas envolvidas estão a par da situação e se sentem confortáveis com ela.
Difere de outras formas de não-monogamia pelo facto de aceitar a afetividade em relação a mais do que uma pessoa. Tal como o próprio nome indica, poliamor significa muitos amores, ou seja, a possibilidade de amar mais do que uma pessoa ao mesmo tempo. Chamar-lhe amor, paixão, desejo, atração, ou carinho, é apenas uma questão de terminologia. A ideia principal é admitir essa variedade de sentimentos que se desenvolvem em relação a várias pessoas, e que vão para além da mera relação sexual.
O Poliamor aceita como facto evidente que todas as pessoas têm sentimentos em relação a outras que as rodeiam. E isto não põe necessariamente em causa sentimentos ou relações anteriores.
O ciúme passa a ser questionável. Primeiro porque nenhuma relação está posta em causa pela mera existência de outra, mas sim pela sua própria capacidade de se manter ou não. Segundo, porque a principal causa do ciúme, a insegurança, pode ser eliminada, já que a abertura é total.
Não havendo consequências restritivas para um comportamento, deixa de haver razão para esconder seja o que for. Cada pessoa tem o domínio total da situação, e a liberdade para fazer escolhas a qualquer momento."

Quem sabe não é esse modelo de relacionamento mais desapegado, mais livre e menos ciumento que me cabe? :-)

domingo, 2 de dezembro de 2012

Viagem às cegas no tabuleiro

Domingo passado não fiquei de bobeira em casa que nem hoje. Não tive tempo de caminhar e (começar a) correr na Lagoa que nem hoje. Aliás hoje foi um domingo atípico, porque ultimamente na maioria deles tenho ido ao trabalho voluntário. Lá, na maior parte das vezes, tenho que me preocupar em conferir se a medicação das crianças (já adolescentes, mas pra mim vão ter sempre 5 anos!) veio certinha, organizar o lanche, mandar todo mundo pro banho, essas coisas... Mas, nos últimos três domingos que eu fui, tive a sorte de ser feriadão emendado ou de ter algum passeio pra eles fazerem. Isso não significa que não tinha ninguém lá, sempre fica alguém - que os padrinhos não puderam levar, que ficou de castigo, que enrolou para não sair. Foram dias mais tranquilos, com uma, duas ou três crianças. Gosto muito disso, porque além de ficar mais fácil pra mim, é óbvio, também consigo dar mais atenção pra quem está em casa. Em dois domingos consegui dar uma atenção maior a uma menina - na verdade uma moça de 17 anos mas que pensa como criança. Achei perdido na cozinha um jogo da memória e perguntei de quem era, e ela falou que era de outra menina que não estava em casa na hora. Pra fugir só um pouquinho de um DVD da Xuxa que ela adora (só um pouquinho porque não dá pra fugir de vez  e no final eu acabo sempre cantando e dançando "Libera Geral"), perguntei se ela queria jogar e ela aceitou. Não tinha a menor ideia se ela sabia como era, mas expliquei e fui jogando e ensinando e ela gostou. No domingo seguinte quando cheguei ela já pediu: "Vamos jogar?"Ah, que alegria, venci a Xuxa ao menos uma vez!
Mas voltemos ao domingo passado. Só estavam lá três figurinhas, a menina do jogo da memória e mais dois meninos. Estavam dormindo quando cheguei, uma preguiça só aquilo lá! Na verdade um dos meninos não estava dormindo, estava só deitado na cama com um tabuleiro de xadrez do lado. Era dia de ir outro voluntário, que ele esperava que fosse jogar xadrez com ele, mas eu apareci no lugar e tive que dizer: "Ih, não sei jogar xadrez não!" Mais tarde, depois do lanche, ele deitou na cama e já estava pegando no sono. O que ele não contava é que eu já tinha decido que naquele dia ele seria o meu alvo. Acordei ele e falei "Vamos jogar xadrez?" E ele respondeu: "Mas tia, você não disse que não sabe?" E eu respondi: "Por isso mesmo, você vai me ensinar."


    Essa estória não pareceria nada demais se não fosse por um imenso "detalhe". O menino é deficiente visual. O tabuleiro e as peças de xadrez são todos adaptados pra ele. O tabuleiro além de ter aquele padrão de duas cores tem relevo nos quadrados de uma das cores. As peças são pretas e brancas, mas as pretas têm uma bolinha de metal no topo. As peças e o tabuleiro possuem velcro, para que as peças fiquem afixadas no lugar e não sejam derrubadas. O jogo é todo feito para ele tatear.


   Naquela tarde de domingo eu aprendi muito. Aprendi as regras básicas do xadrez, que ele soube me explicar muito bem, com extrema paciência, dando exemplos durante o jogo e respondendo minhas dúvidas. Eu só me preocupava em saber que peça minha ainda tinha os movimentos livres e como ia fazer ela andar (na diagonal? uma casa? várias casas?). "Tia, você não tem que pensar em como as peças andam, mas em como eu estou te atacando!" Fiquei ali, jogando e admirando ele jogar, me perguntando: "como será que ele faz isso?" Eu era totalmente "café-com-leite" e ele me venceu fácil com um xeque-mate (só não me venceu antes porque ficou deixando passar as chances para me explicar mais coisas). Mas ele ganha de outros tios que são adultos, enxergam e jogam xadrez há muito tempo. E ele também joga no computador, pois tem xadrez em um software para deficientes visuais (não tenho a menor ideia de como funciona, será que o computador fala as posições das peças na tabuleiro?).

Repito que naquela tarde de domingo eu aprendi muito. Vendo aquele menino de 12 anos tateando o tabuleiro e as peças, praticamente "vendo" com as mãos e visualizando o jogo na tela mental, aprendi que não há barreira intransponível na vida, que não há dificuldade que não se possa superar, que não há limites para o ser humano desenvolver suas capacidades. Fiquei muito feliz por ele estar superando sua limitação. Foi um dia inesquecível e emocionante, em que também aprendi que "sim, eu posso". Todos podemos.